Espelho meu, existe ideia de negócio melhor que a minha?

Por Eduardo de Mello e Souza

A pergunta mais comum entre pequenos empresários que buscam patentear uma invenção é quanto custará obter a patente. Mal sabem eles que o sistema de patentes pode ajudá-los em seus negócios muito antes do pedido de patente em si e seus custos. Por diversas vezes, uma boa busca por tecnologias acaba ajudando o microempresário a reformatar completamente seu negócio. Evitando gastos desnecessários e melhorando as chances de sucesso.

Faz parte do espírito empreendedor sonhar com o crescimento, almejar o dia em que sua empresa será listada entre as mais admiradas e imaginar a recompensa por todo o seu esforço. Existe, porém, uma ilusão de que os melhores empreendedores são os mais audazes e que risco e recompensa andam juntos. Isso pode até ser verdade, mas apenas em parte. Como bem dito numa palestra recente da diretora do programa de Empreendedorismo na Universidade de Stanford, os melhores empreendedores são aqueles que sabem minimizar riscos. Entre os quais, o risco de falha tecnológica.

Recentemente aconselhei um cliente que planejava entrar no mercado de produtos para saúde e bem estar. Ele tinha o projeto do produto formado e queria patenteá-lo antes de continuar a investir na empresa. Esse é um tipo de consulta comum, e reflete uma dúvida que vivi na pele quando era gerente de uma startup na área de biotecnologia. Essencialmente, o que o empreendedor quer saber é se depois de todo o esforço de desenvolvimento e levantar da empresa virá algum gaiato de patente em mãos obrigá-lo a pagar royalties ou a sair do mercado.

É importante lembrar que o sistema de patentes é feito para proteger inovações genuínas, e recompensar aqueles que por anos investiram para chegar a produtos e processos novos e inventivos, cuja divulgação trará benefícios à sociedade. Existem, porém, aqueles que se aproveitam dessa ferramenta de incentivo à inovação, deturpando seus objetivos para tentar obter vantagens indevidas. Cabe ao INPI combater esses abusos, e ao bom empresário manter-se a par de patentes que possam ser usadas contra seu negócio e também explorar, entre as invenções genuínas, quais podem servir-lhe como ferramenta para alavancar seus negócios.

Uma busca nos bancos de patentes e de tecnologias ofertadas para licença revelou ao cliente que seu produto para saúde e bem estar não seria patenteável, pois as características propostas já eram conhecidas no mercado. Revelou ainda que duas outras empresas estavam buscando patente para produtos similares no Brasil, concorrentes que ele não sabia ter, e mostrou também uma gama de produtos similares já no mercado no exterior.

Contudo, nem todas as notícias foram ruins. A forma do produto que ele propunha era nova e original, o que lhe permitiu buscar proteção por meio de um registro de desenho industrial. O software que estaria incluído em seu produto poderia ser licenciado de um fabricante no exterior, assim como outras partes do produto em si. Com isso, a entrada no mercado poderia ser feita de forma muito mais ágil. Testando o mercado com um produto feito com peças aproveitadas de outros fabricantes antes de gastar recursos em um desenvolvimento próprio.

Esse mesmo conceito ágil já vem sendo praticado por algumas das maiores e mais bem sucedidas empresas do mundo. Quando a Apple queria saber se o público estaria disposto a comprar um dispositivo que levasse milhares de músicas no bolso o então recém-contratado Tony Fadell correu o mercado atrás de discos rígidos, telas, baterias e controles para formar o primeiro iPod. Apenas quando o dispositivo mostrou ser interessante é que a empresa investiu pesadamente em design e engenharia até chegar naquele que conhecemos hoje. Tony tornou-se vice-presidente sênior encarregado da divisão de iPods, até mais tarde sair para fundar sua própria empresa, a Nest Labs, que veio para revolucionar o conceito de termostatos e controles domésticos.

Por meio da busca por patentes e tecnologias um projeto de negócio pode ser refinado em uma ideia mais robusta. Custos de desenvolvimento e de pedidos de patente desnecessários foram evitados, e, através de acordos de licença, nosso empreendedor consegui um atalho para o mercado. Agora ele pode se concentrar no que realmente lhe interessa, a conquista de consumidores interessados em saúde e bem estar e vendas para sua própria empresa.