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Planos de Inteligência Artificial do Brasil e dos Estados Unidos: uma análise comparativa

29 de julho de 2025

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Planos de Inteligência Artificial do Brasil e dos Estados Unidos: uma análise comparativa

Diante da crescente importância da inteligência artificial no cenário global, Brasil e Estados Unidos lançaram, em 2025, planos nacionais com diretrizes para o desenvolvimento e uso estratégico da tecnologia. Embora compartilhem objetivos como inovação e uso responsável da inteligência artificial (IA), seus enfoques refletem prioridades e visões distintas.

Em 12 de junho de 2025, o Brasil lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com o apoio do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Seu objetivo é promover o desenvolvimento e uso da IA para enfrentar desafios nacionais, garantindo direitos individuais e coletivos, inclusão social, defesa da democracia, soberania nacional e desenvolvimento econômico sustentável.

No dia 23 de julho de 2025, os Estados Unidos lançaram o America’s AI Action Plan, apresentado pela Casa Branca. O plano define metas para o governo federal e articula recomendações de política com o objetivo de concretizar a visão presidencial de dominância global em inteligência artificial, sendo descrito como um roteiro para vencer a corrida da IA.

O PBIA é uma iniciativa estratégica do governo federal brasileiro, com natureza de diretriz de políticas públicas orientadoras, funcionando como guia de planejamento e fomento. Democrático e inclusivo, busca garantir que a IA e suas inovações beneficie toda a sociedade, com foco em educação, ética e políticas públicas. O plano, busca também a liderança global do Brasil, promovendo o desenvolvimento tecnológico em IA com soberania e compartilhamento internacional de capacidades. Propõe uma “IA para o bem de todos”, com soluções desenvolvidas por brasileiros e para brasileiros, respeitando as particularidades do país e aproveitando vantagens competitivas do Brasil, como sua matriz energética predominantemente limpa. Ele se organiza em cinco eixos de ação em IA: infraestrutura e desenvolvimento, formação e capacitação, serviço público, inovação empresarial e regulação.

O America’s AI Action Plan é um plano estratégico que busca garantir a dominância tecnológica global dos EUA em inteligência artificial, tratada como prioridade de segurança nacional. Com natureza de diretrizes de políticas públicas, tem forte viés estratégico e geopolítico, direcionando ações federais concretas. O plano objetiva a liderança global, com foco em defesa, infraestrutura e competição tecnológica. Estrutura-se em três pilares: inovação, infraestrutura e liderança em diplomacia internacional e segurança.

Os planos do Brasil e dos EUA apresentam pontos de convergência importantes. O primeiro deles é o foco em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D). O Brasil prevê R$ 23 bilhões – valor proveniente de diversas fontes como crédito, recursos públicos e contrapartida de investimento privado – até 2028 para impulsionar infraestrutura, qualificação e pesquisa em IA. Já os EUA fazem da inovação um pilar central, acelerando o avanço tecnológico e removendo barreiras ao setor privado. O plano americano incentiva que a inovação em IA seja liderada pelo setor privado, devendo o governo federal promover condições para que isso ocorra. Além disso, ambos os planos destacam a importância de garantir um uso seguro e responsável da IA, sem inibir a inovação.  O uso da IA para garantir a maior eficiência nos serviços providos pela administração pública também é um objetivo que é indicado nos dois planos.

No âmbito da educação e capacitação em IA, os dois planos têm esse foco, mas as abordagens apresentam diferenças. O Brasil prioriza uma abordagem mais abrangente de educação e capacitação em todos os níveis, inclusão social e soberania tecnológica, enquanto os EUA, não obstante incentivarem e defenderem a educação em IA desde a infância e para toda a sociedade, direcionam o foco à liderança tecnológica e formação técnica especializada para empregos de alto valor.

Por outro lado, os planos de inteligência artificial do Brasil e dos Estados Unidos revelam enfoques estratégicos distintos. O Brasil prioriza uma “IA para o bem de todos” e a soberania tecnológica, buscando desenvolver soluções voltadas para problemas locais, incluindo parcerias público-privadas e internacionais, para melhorar a vida dos brasileiros e enfrentar desafios nacionais. Já os EUA têm como meta a liderança global tecnológica em IA promovendo a aceleração da inovação pelo setor privado para remodelar o balanço de poder mundial.

A política de IA americana desincentiva regulamentação onerosa e excessiva, que possa inibir o desenvolvimento do setor, apoiando práticas Open-Source e Open-Weight para o desenvolvimento dos sistemas de IA. O plano do Brasil tem como um dos seus eixos o apoio ao processo regulatório nacional da IA.

No eixo de infraestrutura e energia, o Brasil capitaliza sua matriz energética predominantemente limpa e renovável, para desenvolver uma IA sustentável, alinhada com os objetivos globais de redução de emissões. Já os EUA priorizam a construção de uma vasta infraestrutura de IA e de uma geração de energia significativamente maior, com a agilização de licenciamentos e a rejeição ao que chamam no documento de “dogma climático radical”, para atender à crescente demanda energética.

Ademais, os planos do Brasil e dos EUA divergem significativamente no tema de segurança nacional e defesa. Enquanto os EUA tratam a inteligência artificial como ferramenta essencial para alcançar a dominância tecnológica global, com foco na preeminência militar e na exportação estratégica para aliados, o Brasil adota uma abordagem voltada à soberania nacional. O PBIA prioriza o desenvolvimento de capacidades internas, com ênfase na proteção da informação, na cibersegurança governamental e na melhoria da segurança pública, buscando reduzir a dependência externa.

Em conclusão, apesar de pontos em comum, os planos de Brasil e EUA revelam projetos nacionais de IA com prioridades diferentes: o Brasil aposta em soberania, inclusão e sustentabilidade, enquanto os EUA privilegiam dominância global, defesa e competição geopolítica. Essas diferenças moldam trajetórias estratégicas contrastantes no uso da IA.

O PBIA pode ser acessado pelo link: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2025/06/publicada-versao-final-do-plano-brasileiro-de-inteligencia-artificial-sob-coordenacao-do-mcti

O America’s AI Action Plan pode ser acessado pelo link: https://www.whitehouse.gov/wp-content/uploads/2025/07/Americas-AI-Action-Plan.pdf

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